Quando comecei a alimentar os meus animais com a dieta BARF (Biologically Appropriate Raw Food), sabia que fazia uma escolha importante, mas não imaginava como essa mudança traria tantos benefícios, nem os desafios que teria de enfrentar.
A alimentação BARF é baseada em oferecer aos nossos patudos alimentos crus e naturais, semelhantes ao que eles comeriam na natureza. Vou partilhar contigo a minha experiência, os benefícios que notei, os cuidados que exigiu e algumas dicas importantes que aprendi no caminho.
A busca por uma alimentação mais saudável
Durante muito tempo, não me preocupei com a alimentação dos meus cães e gatos. Escolhia a ração com base no preço, sem pensar muito na qualidade dos ingredientes ou no impacto que poderia ter na saúde deles. Afinal, sempre ouvi dizer que ração era completa e equilibrada, então não via motivo para questionar.
No entanto, à medida que fui aprendendo mais sobre nutrição animal, percebi o quanto estava enganada. Uma frase que li certa vez ficou-me gravada na memória: “Nós somos aquilo que comemos”, e isso, sem dúvida, também se aplica aos nossos animais.
A partir desse momento, comecei uma verdadeira busca por uma ração que oferecesse uma boa relação qualidade/preço. Pesquisei durante meses, tornei-me quase obcecada pelo tema, especialmente porque a minha cadela entrava na fase sénior e eu queria garantir que ela tivesse a melhor alimentação possível.
Mas, por mais que procurasse, nunca estava completamente satisfeita. Ou os grãos eram demasiado grandes, ou a composição não era adequada para seniores, ou continham cereais e corantes em excesso. Além disso, as opções que realmente me pareciam boas eram inacessíveis para o nosso orçamento. Por isso, sentia-me culpada por não conseguir proporcionar-lhes o melhor e frustrada por não encontrar uma alternativa que me deixasse tranquila.
Mal eu sabia que a resposta que eu procurava não estava no mundo das rações.
Se tens um cão sénior, consulta o nosso artigo sobre cuidados essenciais para cães idosos, onde abordamos as melhores práticas para ajudar o teu amigo peludo a envelhecer com qualidade e conforto.

A Descoberta que Transformou a Alimentação dos Meus Patudos
No final de 2022, descobri algo de que nunca ouvira falar e que parecia ser exatamente o que precisava: a Alimentação Natural Crua, ou BARF. Quando percebi os benefícios desta dieta e os possíveis malefícios da ração industrial, soube que era este o caminho que queria seguir.
Após pedir orçamentos a algumas empresas especializadas que entregam esta alimentação ao domicílio, percebi que, para nós, não era viável. Alimentar quatro animais, incluindo um de porte grande, tornava-se demasiado caro. Por isso, durante meses, a ideia ficou apenas na minha cabeça, parecia um sonho impossível de concretizar.
Mais tarde cheguei à conclusão de que, se conseguisse preparar as refeições em casa, dar-lhes esta alimentação tornava-se possível. Por isso, mergulhei de cabeça no estudo sobre o tema e acompanhei experiências de outras pessoas e de veterinários especializados. No ano seguinte, iniciei a transição da ração seca para a comida natural crua e nunca mais olhei para trás!
O Que é a Alimentação BARF?
BARF é o acrónimo inglês que significa Biologically Appropriate Raw Food, que em português se traduz por Alimentação Crua Biologicamente Apropriada. Normalmente, chamamos simplesmente de Alimentação Natural Crua. Ou seja, trata-se de uma alimentação que tenta replicar o que o cão ou gato comeria na natureza.
Costuma ser composta por carne, ossos carnudos, vísceras, ovos, vegetais e até peixe.
É importante esclarecer que oferecer alimentação natural aos teus animais não significa dar-lhes restos de comida ou frango com arroz. Cada refeição precisa de ser formulada segundo as necessidades individuais do animal, garantindo assim, o equilíbrio correto de nutrientes.
Embora o conceito seja simples, a prática exige alguma adaptação e atenção, especialmente no início, para garantir que a dieta seja equilibrada e adequada às necessidades do teu animal.


Os Primeiros Passos na Alimentação BARF
Uma das primeiras lições que aprendi com a alimentação BARF é que não existe uma dieta única para todos os animais. A alimentação ideal depende de vários fatores, como idade, peso e saúde do animal. Por exemplo, um cachorro em crescimento pode precisar de uma quantidade maior de proteínas e cálcio, enquanto que um cão idoso ou com algum problema de saúde vai ter necessidades diferentes.
Foi a partir de experiências partilhadas por pessoas que já seguiam esta alimentação há bastante tempo, que descobri o site Cachorro Verde. Este site fez um trabalho incrível ao explicar tudo o que é necessário saber sobre este assunto, com imensos detalhes e informações valiosas. Perdi a conta às vezes que li e reli aqueles artigos!
Como fazia isto por minha conta, foi preciso muita pesquisa e paciência para conseguir formular dietas equilibradas para cada um deles e encontrar os ingredientes que precisava a preços acessíveis. Por isso, se não quiseres ir pelo caminho mais longo, recomendo marcar uma consulta com um veterinário especializado, que vai formular a dieta para o caso específico do teu animal, ou podes optar por fazer um curso que ensine a preparar esta comida em casa.
Após fazer a transição da comida deles, tive a oportunidade de marcar uma consulta para a minha cadela idosa com a Dr.ᵃ Margarida Raposo — Médica Veterinária Integrativa, que se dedica à medicina e nutrição funcional de cães e gatos. Esta consulta teve outros motivos, mas claro que aproveitei para confirmar se eu estava a preparar a alimentação deles de maneira correta. Além de fazer alguns ajustes necessários na alimentação dela, a Dr.ᵃ também incluiu alguns suplementos. Depois destas mudanças e de tirar algumas dúvidas, senti-me muito mais confiante nesta jornada!
Benefícios Visíveis na Saúde dos Meus Animais
A maior recompensa de seguir a alimentação BARF foi ver os meus animais mais saudáveis e ativos, além deles, simplesmente, adorarem esta comida!
Os benefícios desta alimentação são imensos, mas alguns dos resultados que observei neles foram:
- Perda de gordura excessiva;
- Aumento de energia e vitalidade;
- Pele e pelo mais saudáveis;
- Melhor digestão;
- Fezes em menor quantidade e com menos cheiro;
- Dentes mais limpos.
Além disso, como a comida natural contém cerca de 70% de humidade, em comparação com os 10% da ração, os nossos dois gatos puderam deixar de comer ração específica para problemas urinários.
Cuidados Necessários com a Alimentação BARF
Embora a alimentação BARF tenha muitos benefícios, exige cuidados adicionais. Como se trata de carne crua, é crucial garantir que a higiene na preparação seja impecável para evitar contaminações. É importante não só manuseá-la com cuidado, mas também armazená-la corretamente, incluindo o congelamento profilático, que consiste em congelar a carne a temperaturas muito baixas durante um período específico.
Outra questão importante é a suplementação, já que a dieta BARF, por si só, pode não cobrir todos os nutrientes necessários. Em muitos casos, é necessário adicionar suplementos, como cálcio (no caso de optares, por exemplo, por uma dieta sem ossos), óleo de peixe ou vitaminas, para garantir que o animal receba tudo o que precisa. Por isso, aconselho sempre a consulta com um veterinário para encontrar a melhor abordagem para o teu animal.

Desafios que tive ao Começar
No início, tive alguns receios, claro, principalmente por lidar com carne crua e pelos muitos mitos sobre o tema, como a ideia de que cães e gatos não podem comer ossos.
Na realidade, eles não podem é comer ossos cozinhados, pois durante o processo de cozedura ocorre uma alteração na estrutura molecular do osso, tornando-o mais seco e quebradiço. Como resultado, os ossos cozinhados podem partir-se em fragmentos afiados e causar asfixia ou ferimentos internos. Já os ossos crus, desde que apropriados ao porte do animal e depois de terem passado pelo congelamento profilático, são seguros e benéficos.


O maior desafio foi encontrar todos os ingredientes a um custo razoável e preparar as porções para quatro animais. No início, demorava muito tempo, mas com a prática tudo se tornou mais fácil.
Hoje em dia, preparo a comida para um mês inteiro e congelo, separando normalmente os dias: um para os gatos e outro para os cães. Em média, demoro cerca de uma hora por animal, mas no caso da Lucy, que é um cão de porte grande, às vezes levo até duas horas.


Alternativas para Quem Não Quer Preparar BARF em Casa
Se preparar a comida em casa não for uma opção, existem empresas que produzem alimentação BARF já pronta. A única que experimentei foi a Seleção Fresca e, ocasionalmente, ainda compro, por ser uma alternativa prática e acessível.
No entanto, esta comida não é formulada especificamente para cada animal, ao contrário de outras empresas que ajustam as doses e ingredientes consoante as necessidades individuais de cada cão ou gato — o que naturalmente tem outro custo.
A Altudog é ainda outra opção. Além de snacks, comida húmida e suplementos naturais, eles também vendem comida natural desidratada. Só tens de colocar a quantidade de água indicada e esperar uns minutos para a comida ficar pronta. Usamos esta opção quando vamos de férias.


Reflexão Final e Respeito pelas Escolhas de cada um
A minha experiência com a alimentação BARF foi transformadora para os meus animais e para mim. Eles estão mais saudáveis, felizes e cheios de energia, o que é um reflexo do impacto positivo que a alimentação natural pode ter.
No entanto, também aprendi que esta é uma dieta que exige compromisso e cuidados extras, especialmente no que diz respeito à higiene e suplementação. Se decidires dar este passo, recomendo que procures informação, consultes especialistas e ajustes a dieta segundo as necessidades do teu patudo.
Espero que a minha experiência te inspire a explorar a alimentação BARF, se achas que é o melhor para o teu animal. Não desistas se, no início, parecer complicado! A alimentação natural requer tempo e dedicação, mas os benefícios para a saúde dos nossos animais fazem tudo valer a pena.
E se achares que tudo isto não faz sentido para ti, ou se preferires continuar a alimentar o teu animal com ração, também está tudo bem! Somos todos livres de ter as nossas opiniões e de decidir o que é melhor para os nossos patudos e para a nossa vida. No fim, o mais importante é garantir que os nossos animais são saudáveis, felizes e bem cuidados.
E tu, já experimentaste a alimentação natural para os teus patudos? Qual o teu maior receio? Partilha a tua experiência nos comentários!
Este conteúdo é baseado na minha experiência pessoal e tem fins meramente informativos. Não substitui o aconselhamento veterinário. Em caso de dúvidas ou problemas de saúde, consulta sempre um veterinário.
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Olá 😊
Estava a ler este artigo e parece que estava a ler a minha história.
Também comecei a minha jornada pela procura da melhor ração que poderia oferecer ao meu cão, até que percebi que nao existe a melhor ração. E foi assim que também comecei a minha procura por outras alternativas e também cheguei à Doutora Margarida onde começamos a transição alimentar.
Dá trabalho sim e confesso que por vezes ainda surgem algumas dúvidas se estou no caminho certo. Sendo um tipo de alimentação infelizmente fora do comum, e quando os nossos animais têm alguma situação que precise ser seguida no veterinário, sinto que há alguma descriminação quando sabem da alimentação que seguimos. E por vezes, juro que já me fizeram questionar se estou realmente no caminho certo. É pena que exista ainda muito desconhecimento, o que leva a que não tenhamos muito apoio, do lado da veterinária convencional.
Mas sim, no geral, notei muitas diferenças para melhor na saúde do meu cão, e até diferenças a nível comportamental. Acho que ele é um cão mais feliz 😊
Obrigada pela partilha
Olá 😊
Muito obrigada por partilhares a tua história connosco! Fico mesmo feliz por saber que te identificaste com o que escrevi — é sempre bom perceber que não estamos sozinhos neste caminho.
Sem dúvida que não é fácil… muitas pessoas ainda acham estranho e questionam esta escolha, especialmente quando se trata de algo tão diferente do que é considerado “normal”. E sim, encontrar veterinários com conhecimento sobre alimentação natural (e que não nos julguem) é uma das partes mais difíceis — sentirmo-nos apoiados faz toda a diferença.
Houve alturas em que também questionei se estaria a fazer o melhor pelos meus patudos. Mas sempre que surgem essas dúvidas, lembro-me de como seria impensável para mim viver a base de comida processada todos os dias… então, porque seria diferente com eles? Isso dá-me força para continuar neste caminho e partilhar a minha experiência, tal como outros fizeram comigo, para que mais patudos possam ter uma vida mais saudável e feliz 🐾
Obrigada, mais uma vez, pela tua partilha — e que bom saber que o teu cão está mais feliz e saudável ❤️